A análise de viabilidade econômica é um estudo realizado previamente para avaliar se um investimento é viável. Deve ser utilizada em qualquer organização para determinar se um projeto deve ou não ser feito. Na gestão de portfólio é útil para comparar projetos do ponto de vista de retorno do investimento.
Tenho dito em várias oportunidades que o termo Projeto em português não é a tradução mais feliz para o termo Project do inglês. Frequentemente o profissional que trabalha com projetos é confundido com quem faz plantas e desenhos técnicos. Essa confusão acontece, ao meu ver, porque o termo Projeto em português tem mais a ver com Design em inglês. Por outro lado, o termo Project do inglês seria mais bem traduzido para Empreendimento em português.
Nesse contexto, é preciso levar em consideração que todo empreendimento é realizado através de um investimento inicial, visando um retorno. O investimento é feito geralmente em forma de dinheiro, tempo (que é dinheiro), alocação de recursos (que também custa dinheiro), e outros itens que na maioria das vezes podem ser facilmente traduzidos para valores monetários.
Já para avaliarmos o retorno ou viabilidade econômica, a conta pode ser mais difícil. O retorno pode ser representado pela lucratividade com as vendas de um determinado produto ou serviço produzido graças ao investimento inicial. Também pode ser a economia obtida pela maior eficiência após a implantação de novas máquinas ou redefinição de processo. Mas, também pode vir de forma mais indireta como por exemplo os projetos sociais, campanhas governamentais etc.
Normalmente o investimento inicial parece mais fácil de ser avaliado na análise de viabilidade. É calculado pelo levantamento ou estimativa da necessidade de recursos para produzir um certo produto ou serviço. Pode ser uma fábrica, substituição de uma máquina, o desenho de um novo processo ou mesmo uma campanha de marketing. Esse é o custo do projeto, considerando o custo dos recursos para executar as tarefas e produzir todas as entregas do projeto.
Para calcular o retorno é preciso, muitas vezes, pesquisas, resultados histórico, uso de estatística, estimativas de vendas, custos operacionais etc. Apesar das estimativas estarem presentes também no cálculo do investimento inicial, elas são mais a curto prazo. Estas são normalmente mais fáceis de serem quantificadas, pois são calculadas com base em recursos conhecidos. Assim, tendem a ser mais precisas quando o trabalho de planejamento do projeto é bem feito.
O cálculo do retorno possui inúmeras variáveis normalmente fora do alcance do gerente do projeto e seu time. É preciso envolver o departamento de marketing para realizar pesquisas e projeções de vendas e preço. Da mesma forma o departamento financeiro pode estimar o comportamento da economia durante o ciclo de vida do produto. Também os departamentos operacionais devem ser envolvidos para a estimativa dos custos operacionais para a produção de um determinado item. A operação pode ajudar ainda na avaliação das economias a serem obtidas com uma nova máquina ou um novo processo.
Assim, é possível prever o que poderá acontecer durante o tempo em que o retorno será obtido. Os retornos acontecem mais a longo prazo e, portanto, possuem maior risco e maior possibilidade de variações.
Avaliando dessa forma, calcular o retorno de um empreendimento ou viabilidade econômica parece um tanto complexo. Isso não implica, de jeito algum, que uma organização pode prescindir dessa informação. Peter Drucker, grande pensador da administração moderna, dizia que só se gerencia o que se pode medir. Douglas W. Hubbard no livro How to Measure Anything afirma que tudo pode e deve ser medido. Da mesma forma, afirma que intangível não tem nada a ver com imensurável. Segundo ele, intangível diz respeito ao que não se pode tocar, como o ar, por exemplo. Já o imensurável tem a ver com o que não se pode medir.
Hubbard também diz que qualquer medida, por mais imprecisa que seja, é melhor do que a total ignorância. Assim, mesmo para aspectos intangíveis ou dependente de muitas variáveis, é preciso persistência, curiosidade e interesse para gerar uma estimativa. O importante é justificar o resultado protegê-lo através de premissas, mantendo sempre uma memória de cálculo.
De posse das estimativas dos custos que compõem o investimento inicial, e das expectativas de retorno com esse investimento, é hora de calcular os importantes indicadores econômicos do empreendimento. Esses indicadores são o VPL ou Valor Presente Líquido, TIR ou Taxa Interna de Retorno, Payback ou período de retorno do capital e ROI ou Retorno sobre o Investimento. Todos explicados pela matemática financeira.
Todos os indicadores, exceto a TIR, utilizam uma taxa de desconto, normalmente a TMA ou WACC, que representa o custo do capital empregado. O capital pode ser próprio, de terceiros ou uma proporção entre os dois.
Essa taxa pode representar também o custo de oportunidade da organização. Assim, ela abre mão de outros investimentos, buscando cobrir com o empreendimento qualquer rendimento que poderia obter em outras oportunidades. Por outro lado, busca ainda garantir uma margem de risco aceitável em relação ao empreendimento e o ambiente econômico.
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Os indicadores apresentados tornam possível avaliar se um empreendimento será viável ou não do ponto de vista econômico. Eles são complementares entre si auxiliando na decisão de investimento, que deve contemplar também a análise de risco de negócio. Além disso, é preciso levar em conta ainda a disponibilidade dos recursos e a viabilidade técnica. Ou seja, a capacidade que a organização tem para realizar o empreendimento. Mas em primeiro lugar é necessário que o empreendimento em questão já tenha passado pelo crivo da análise estratégica.
Para que um projeto seja considerado viável do ponto de vista econômico, o Valor Presente Líquido (VPL) deve ser positivo. Assim, como as receitas futuras são descontadas pela TMA, o valor positivo representa ganho adicional em relação à outras oportunidades. A TIR deve ser maior do que a TMA, demonstrando que o taxa de retorno do projeto é maior do que a taxa mínima exigida pela organização.
O ROI deve ser maior do que um, pois seu calculo divide o valor do retorno descontado pelo investimento. Assim, o valo positivo demonstra que o retorno é maior do que o investimento inicial. Já o Pay Back pode ser o divisor de águas entre a escolha de um projeto ou outro. Mesmo com indicadores piores frente a outras oportunidades, um projeto pode ser escolhido por devolver mais rapidamente o capital investido. Essa análise pode ser muito importante nos casos onde as organizações possuem recursos investidos que estão comprometidos com pagamentos futuros. Pode ser o caso de reservas para ações judiciais, hipotecas, dívidas em negociação etc.
Em uma organização há sempre muitas ideias para novos projetos, negócios e oportunidades. Todos aparentam ser muito interessantes e promissores à primeira vista. Como afirmei em meu artigo “Gestão Integrada de projetos, portfólios e negócios” par alcançar os objetivos, é necessário que os projetos certos sejam executados. Assim, nem toda ideia deve virar um projeto. Em primeiro lugar ela deve ser aderente à estratégia da organização e possível de ser realizada com os recursos disponíveis. Deve ainda estar dentro do patamar de risco aceitável para os envolvidos e ainda ser viável economicamente. Ou seja, deve demonstrar capacidade de gerar os retornos desejados e necessários para a manutenção do negócio. Essa avaliação faz parte da gestão de portfólios e da análise de viabilidade de negócios. Normalmente é realizada no nível de diretoria das organizações com o auxílio do Escritório Corporativo de Projetos (PMO).
O estudo da viabilidade financeira dos projetos normalmente é confundido com a análise da viabilidade econômica.
A análise econômica se ocupa em investigar a capacidade que um projeto tem para gerar retorno pelo investimento. Por outro lado, a análise financeira avalia a capacidade da organização em cumprir no vencimento com todas as obrigações assumidas. No contexto do projeto são os custos com recursos, materiais, máquinas, equipamentos, insumos etc. além dos custos financeiros com empréstimos.
Os projetos estratégicos de sua organização passam pelo crivo de uma análise de viabilidade econômica? São autorizados apenas mediante a análise de disponibilidade dos recursos financeiros, ou vivem sendo interrompidos por falta de verba?
Compartilhe com nossos colegas como sua organização avalia o retorno dos projetos e a capacidade financeira para executá-los.
Artigo publicado originalmente em 27 de junho de 2016
Bons Projetos e bons negócio!
2 Comentários
O mantra de que somente temos qualidade daquilo que se mede agora pode ir mais além : só se gerencia aquilo que se mede.
Sim, os projetos estratégicos da organização que atuo, passam por um crivo de análise de viabilidade econômica. O tempo investido na análise, planejamento e levantamento, foram maiores que na execução. Exemplo: atuo em um projeto para implantação de um novo sistema. Em 2018 iniciou a busca pelo melhor parceiro, quem seria o fornecedor, os orçamentos, como seria feito… qual o valor investido, qual seria o retorno a médio e longo prazo… e a execução com time operacional, ocorreu em 2022/2023. Com entrega prevista para 12/2023 e 01/2024. Em tempo, o conteúdo é esclarecedor. Obrigada pelo conhecimento compartilhado.