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Olá! Há algum tempo, quando estava participando de um painel de discussão no Congresso Brasileiro de Gerenciamento de Projetos, realizado pelo PMI do Rio de Janeiro, um assunto acabou levando alguém da plateia, que estava fazendo uma pergunta, a mencionar pejorativamente o “jeitinho” brasileiro, colocando essa característica exclusivamente no patamar dos maus comportamentos.
Minha resposta naquele momento, e que levo comigo ainda hoje, não teve nada de patriotismo ou nacionalismo, mas sim de pura constatação de como o jeitinho pode ser um grande diferencial em alguns momentos, desde que utilizado com ética e responsabilidade.
O exemplo que me veio a cabeça na época, e que é bastante pertinente nesses dias de olimpíadas, foi o voleibol masculino brasileiro, que nos anos 80 começou a vencer jogos por causa do jeitinho. Quem não se lembra ou nunca assistiu à algum vídeo com o jogador Bernard aplicando seu famoso saque Jornada nas estrelas, como ficou conhecido um tipo específico de saque por baixo, em que a bola é acertada de forma a atingir grandes alturas. Além de ser inusitado e surpreendente para a época, a bola adquiria muita velocidade na descida. Esse fato, aliado à visão dos adversários ser ofuscada pelos refletores, dificultava a recepção e rendia vários pontos para a seleção brasileira de vôlei, que tinha também outras tiradas, protagonizadas por jogadores feras como William, Renan e Montanaro. Com a derrota da seleção canarinho na copa do mundo de 1982 e a vitória do voleibol masculino no Mundialito realizado no Brasil nesse mesmo ano, o pais do futebol passou a ser também o país do voleibol. Em seguida o Brasil ganhou também a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, tornando esses jogadores conhecidos como “A Geração Prata”.
Naquela época o ‘jeitinho” tornou-se a arma secreta do Brasil para quebrar barreiras e garantir vitórias, mas todos sabiam que essas conquistas não seriam duradouras. Em bem pouco tempo os adversários já estariam preparados para responder àquelas jogadas e mesmo com toda a capacidade criativa dos jogadores brasileiros, o repertório um dia acabaria.
Aproveitando a visibilidade internacional proporcionada pelas conquistas anteriores, bons patrocínios foram fechados, garantindo a estrutura necessária para a realização de um trabalho sério nesse esporte. Com os bons resultados, várias empresas se interessaram por montar suas equipes, adotando-se por aqui o modelo italiano de Empresa/time.
Esse momento coincidiu também com a volta de vários profissionais de educação física que haviam estudado em outros países, trazendo um desenvolvimento científico para a atividade esportiva. Desta forma, o voleibol passou a receber os recursos e esforços necessários para o seu desenvolvimento, conquistando vitórias cada vez mais pelo seu aperfeiçoamento técnico, sem, no entanto, abandonar o jeitinho e o improviso, sua “marca registrada”. Começava assim o Projeto Ouro Olímpico nesse esporte, que acabou se desdobrado também em vitórias nos mundiais e tantas outras conquistas, graças à geração prata que ampliou fronteiras e propiciou todas as condições necessárias para esse desenvolvimento.
Dando continuidade à minha resposta naquele evento que participei no Rio de Janeiro, lembro de ter dado esse e outros exemplos e depois finalizei com a seguinte frase: “O mundo inveja o jeitinho brasileiro, só que eles já possuem o planejamento e a preparação. Se nós, brasileiros, unirmos nossa capacidade de improviso, com uma boa dose de técnica e uso de boas práticas gerenciais, seremos os melhores”.
É muito mais difícil para os “gringos” aprenderem o jeitinho brasileiro do que nós aprendermos as técnicas e boas práticas. Já estamos nesse caminho tanto no esporte quanto em outras áreas. Impossível não aproveitar esse momento para elogiar a gestão competente do projeto abertura das olimpíadas. Outros projetos desse evento também foram bem realizados, alguns nem tanto, mais por conta de interferências políticas do que por falta de gestão.
O fato é que temos bons profissionais, altamente competentes do ponto de vista técnico, que conhecem e aplicam as melhores práticas e que ainda por cima possuem uma enorme versatilidade. Basta que tenham liberdade para trabalhar. Sem interferências políticas, excesso de burocracia, amarras hierárquicas, estruturas arcaicas e tantos outros empecilhos para a boa gestão. Isso vale tanto para o setor público, quanto para o setor privado.
Parabéns aos nossos atletas e outros profissionais que conquistaram suas vitórias pelos esforços pessoais, fruto de histórias de superação. Mas que bom que também podemos ver vitórias decorrentes não apenas dos esforços individuais, e sim resultado de projetos bem elaborados e executados.
Gostou desse post? Então eu espero o seu comentário. Compartilhe sua opinião comigo e com nossos colegas para ampliarmos a discussão sobre esse assunto. Espero com isso colaborar para um ambiente de gerenciamento de projetos cheio de “jeitinhos”, mas com muito profissionalismo.
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Bons Projetos!
Paulo Mei
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