Olá, como vai? Você que já viu projetos serem encerrados antes de sua entrega final, com certeza sabe como essa situação é dolorosa, não é? Mas o que há por trás dessa decisão? Qual a lógica que permite que uma organização racionalmente assuma ter gasto muito dinheiro em um projeto e não o finalizar? Para abordar esse assunto vou reeditar aqui no meu blog um texto que escrevi em 2008 e publiquei na e-News do PMI de São Paulo.
Muitos projetos são executados para cumprirem objetivos econômico-financeiros ligados à estratégia de uma organização. Durante sua execução ele representa apenas custo, em forma de investimentos das organizações que visam com seu produto ou serviço conquistarem benefícios maiores do que o que foi gasto, recuperando o investimento e tendo lucro. Esse lucro pode vir em forma de novas receitas decorrentes de novos produtos, novas funcionalidades ou aumento de produção, ou através de redução de custos pela troca de equipamentos, melhorias de processos ou ganhos de eficiência, ou até mesmo com a venda do produto ou serviço do projeto, nos casos onde a organização executa um projeto para terceiros.
Nesse sentido, quando um projeto é autorizado, é por que na análise de viabilidade essa lucratividade foi calculada e está alinhada com a estratégia da organização, permitindo ao gerente do projeto iniciar o planejamento e se organizar para sua execução, uma vez que o plano seja aprovado. Na execução, enquanto os esforços são empreendidos para a produção das entregas do projeto, os executivos devem permanecer atentos às informações que indicaram que aquele projeto era lucrativo, para avaliarem constantemente se ao ser concluído ele irá de fato produzir os benefícios esperados. Caso contrário uma decisão tipo Go/No Go deve ser tomada, definindo se o projeto deve continuar ou ser encerrado. A teoria econômica que sustenta, ou pelo menos deveria embasar essa decisão é o Sunk Cost ou custo afundado.
Por definição, Sunk Cost ou custo afundado é o custo incorrido e que não pode ser recuperado. Imagine, por exemplo, que você tenha comprado antecipadamente uma entrada caríssima, nominal e intransferível para um show. Mesmo que na última hora você decida que não quer mais ir ao show por ter aparecido um novo compromisso mais interessante, não há maneira de recuperar o dinheiro de volta, pois o ingresso é nominal e intransferível, lembra? O preço do ingresso passa a ser o sunk cost, que segundo os economistas, não deveria ser levado em conta na decisão de ir ou não assistir o show. Há nesse caso duas escolhas possíveis: Assistir a um evento que não quer mais por que teria algo melhor para fazer, apenas por ter pago o ingresso, ou assumir o custo do ingresso e fazer qualquer outra coisa que mais lhe agrade. Como na segunda opção a perda é apenas monetária (valor do ingresso) e na primeira opção além da perda monetária há a perda de tempo por assistir a um show que não quer mais, a decisão racional seria a segunda opção.
Caso você opte por assistir ao show em função do valor pago pelo ingresso, então você estará “honrando o sunk cost”. A maioria das pessoas costuma dar algum peso ao custo afundado nas decisões. Na área econômica ou de negócios, a tendência de se honrar o custo afundado é tratada como “Falácia do sunk cost”.
É importante notar que decisões podem ser tomadas visando atender interesses próprios e não aos interesses de uma organização. Essas decisões podem ser bem diferentes das que seriam tomadas visando apenas eficiência e lucratividade.
Em projetos, um exemplo de sunk cost pode ser o investimento em uma nova usina hidroelétrica com investimento total previsto de $50 milhões. Suponha que $30 milhões já tenham sido gastos em um certo momento do projeto. O valor do empreendimento nesse momento é zero, pois a usina está incompleta e incapaz de gerar benefícios nesse estágio. Digamos que uma nova tecnologia tenha sido desenvolvida nesse meio tempo, possibilitando que uma usina termoelétrica com a mesma capacidade e mesmos custos operacionais seja construída por $10 milhões. Nesse caso, a hidroelétrica pode ser terminada por mais $20 milhões ou simplesmente abandonada, e uma nova usina termoelétrica implantada por $10 milhões. Parece óbvio que em uma decisão racional, abandonar a hidroelétrica e implantar a termoelétrica é o melhor a fazer, mesmo que isso represente uma perda total do investimento já realizado com a usina inacabada.
Se os responsáveis por tomar essa decisão forem economicamente irracionais ou tiverem interesses “errados”, talvez optem por finalizar a obra original. Por exemplo, políticos ou administradores podem ter mais interesse em evitar a aparência de uma perda total do investimento já realizado. A isso damos o nome de “Aversão à Perda”.
De um modo geral as pessoas e organizações continuam colocando recursos em projetos já iniciados por causa do medo de serem tachados de esbanjadores caso optem por abandonar projetos que já tenham recebido pesados investimentos. Pesquisas revelam que “Falácia do Sunk Cost” ou “Aversão à perda” são comuns, limitando a racionalidade econômica e trazendo enormes implicações para finanças, economia e gestão de projetos.
Lembrando o que afirmei no início desse texto, os projetos existem para cumprirem um objetivo estratégico, gerando benefícios maiores do que os esforços para serem executados. Caso durante a execução haja indicações claras de que os benefícios não vão acontecer, qual a melhor decisão? Continuar o projeto até o fim, gastando todo o investimento planejado e não obter o resultado esperado, ou encerrar o projeto gastando apenas parte do investimento?
A maioria dos projetos pode ser encerrado antes do seu final. Mas existe um tipo especial de projeto que não deveria acabar antecipadamente. Estou falando do projeto vida, prestando aqui uma homenagem a todos os projetos interrompidos abruptamente na tragédia Chapecoense. Meus sentimentos aos familiares e a todos que, como eu, se sentiram atingidos por essa fatalidade.
Como são tomadas as decisões em sua organização? Vocês honram o custo afundado, caindo na falácia do Sunk Cost, ou tomam decisões embasados estritamente nos fatores econômicos?
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Bons Projetos!
Paulo Mei
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