A inovação atualmente está presente no dia a dia de toda organização, ou pelo menos deveria estar. Caso contrário, as constantes evoluções das outras organizações podem representar uma ameaça fatal para os negócios. Novas funcionalidades dos produtos concorrentes ou mesmo novos produtos substitutos são lançados todos os dias.
Além disso, o excesso de oferta de produtos e serviços, vem comprometendo cada vez mais a renda disponível para consumo. Isso faz com que uma organização tenha que disputar clientes não apenas com seus concorrentes diretos, mas com todos o mercado.
Desde o início da industrialização as organizações eram estabelecidas para produzirem com eficiência um número restrito de produtos. Então, os estudos sobre a administração moderna, no início do século passado, classificaram essas organizações que possuíam exclusivamente a operação como “funcionais”. Grandes empresas, como as automobilísticas, nasceram para produzirem apenas um produto, quase sem variações.
É famosa a frase de Henry Ford, dizendo que seus consumidores poderiam escolher qualquer cor do modelo T, desde que fosse preto. Isso evidencia o conceito da época, quando as industrias fabricavam os bens e empurravam para o consumo. Modelo Push de produção.
Mas rapidamente o mercado percebeu que os clientes estavam cada vez mais exigentes. Por exemplo, a Ford perdeu muitas vendas para os concorrentes que entraram com o conceito de opcionais e customizações. Mesmo também tendo apenas um modelo de automóvel, esses novos produtores conseguiam abranger um numero maior de gostos e desejos. Isso despertou a atenção da indústria da época de que um novo modelo de mercado estava em ação. Quem definia a demanda não era mais a indústria, mas sim o consumidor. Era o modelo Pull de produção.
A partir deste momento o cliente passou a ditar as regras. Assim, era ele, e não mais a indústria, quem definia o que, como e em que quantidade um produto seria produzido. A indústria e sua produção ou operação deixou de ser estática. O conceito de produto único e eterno já não era mais viável.
E as exigências não pararam mais de crescer. Modelos de veículos tornaram-se cada vez mais frequentes. Eletrônicos e eletrodomésticos cada vez mais sofisticados. Bens de consumo com produtos tão úteis quanto substituíveis. A indústria de alimentos cada vez mais adaptados à diversidade de gostos e desejos dos consumidores cada vez mais sofisticados.
Tudo isso levou as organizações a uma corrida desenfreada por inovações, que pudessem suprir seus clientes e mantê-los fieis à marca.
Em um dado momento, a simples evolução dos produtos ou serviços já não eram mais suficientes. Como mencionei em meu artigo “Inovar é preciso. Lucrar não é preciso”, era importante desenvolver também novos modelos de negócio.
A indústria de base não ficou fora desta pois seus clientes, as industrias, também se tornaram mais exigentes. Produtores de máquinas e equipamentos tiveram que se reinventar para manter seus compradores competitivos no mercado.
Por conta da crescente demanda por inovação, a indústria teve que passar por várias transformações, algumas caracterizadas por saltos evolutivos. Assim, esses saltos foram classificados como revoluções industrias.
A Primeira Revolução Industrial ocorreu no final do século XVIII. Ela promoveu a transição dos métodos artesanais para a produção por máquinas, usando como energia a água e o vapor.
A Segunda Revolução Industrial ocorreu a partir da segunda metade do século 19 até a Segunda Guerra Mundial. Introduziu a produção em massa com a ajuda da energia elétrica.
A Terceira Revolução Industrial veio em seguida, acompanhando a revolução digital para agilizar ainda mais a produção.
Finalmente, a Quarta Revolução Industrial começou no início do século 21 e ainda está acontecendo. É a era da automação.
Cada uma dessas transformações elevou a indústria de um sistema antigo de produção com uso intensivo de mão de obra, para um sistema novo e totalmente integrado onde quase não há intervenção humana.
As constantes evoluções tecnológicas e a sempre crescente demanda por inovação coloca toda organização em um ambiente de frequentes mudanças. E como toda mudança, precisam ser planejadas e implementadas através de projetos. Então pode-se dizer que toda organização hoje em dia é gerenciada por projetos.
Segundo uma pesquisa publicada anualmente nos Estados Unidos, o Brasil é o 64º país mais inovador do mundo. Apesar de ter avançado cinco posições nos últimos anos, ainda é muito pouco, olhando a metade vazia do copo. No entanto olhando a metade cheia do copo, há muitas oportunidades para investir.
Os projetos de inovação não são muito diferentes de qualquer projeto. Precisam ter objetivos alinhados com a estratégia da organização, que deve colocar seu foco de crescimento neste contexto. Depois disso, a definição dos requisitos e tudo o que é necessário para produzi-los são organizados com esse viés. Embora semelhante a qualquer projeto, algumas características definem esse tipo de projeto.
Apesar dos projetos de inovação não serem tão diferentes, alguns cuidados são necessários na escolha do gerente e da equipe. Suas características únicas demandam habilidades necessárias em qualquer projeto, mas com muito mais intensidade e de forma mais concentrada.
Os projetos de inovação normalmente reúnem um número maior de stakeholders. Envolve mais parceiros, clientes, fornecedores, profissionais e institutos de pesquisa, agências de fomento, incubadoras etc. Um dos aspectos mais desafiadores do ponto de vista da gestão dos projetos de inovação é o conceito de co-criação. Como escrevi no post sobre Economia da Colaboração, as estruturas hierárquicas vem sendo substituídas por modelos colaborativos. Enciclopédias, aviões, sistemas operacionais, e muitos outros itens estão sendo criados por equipes que chegam facilmente à casa dos milhões. Desta forma, o gerente de projeto precisa reunir habilidades para manter o foco da equipe nas demandas do projeto.
Além disso, por se tratar de projetos com alta taxa de risco, o nível de insucesso costuma ser mais alto. Por isso, é preciso saber lidar com diferentes expectativas e manter a equipe motivada e integrada, mesmo em situações adversas.
A metodologia também precisa ser adaptada, caso não exista um PMO que tenha criado uma metodologia para esse tipo de projeto. Os projetos de inovação, devido às incertezas envolvidas, demandam controles de custo, qualidade e riscos mais apurados. Assim, além de promover um ambiente mais confortável aos stakeholders durante a execução, ajuda a evitar surpresas desagradáveis no final.
A frase “O futuro de sua organização é agora” não é apenas figura de retórica ou um titulo bonitinho. Segundo a S&P (Standard&Poor’s), 75% das 500 empresas mais poderosas hoje sairão desta lista nos próximos 15 anos! Algumas até deixarão de existir. É claro que a sobrevivência depende da inovação, tanto de processos quanto de produtos. Só para ilustrar e velocidade desse processo hoje em dia, na década de 1960 esse tempo de reciclagem era de 33 anos.
Segundo alguns estudos existem basicamente quatro frentes de inovação que demandam esforços da gestão de projetos:
Portanto, se ainda não está claro, a maioria das empresas de hoje podem não estar vivas em poucos anos. Só sobreviverão aquelas que descobrirem, através da inovação, o caminho para continuar gerando valor. Não apenas para seus sócios e acionistas, mas também para seus funcionários, demais stakeholders e para a sociedade em geral.
Você tem vivenciado a inovação em seus projetos? E quanto a sua organização, vai ser uma das que sobreviverá às novas demandas?
Colabore com essa discussão deixando seu comentário.
Bons Projetos e bons negócio!
2 Comentários
Excelente artigo. Vejo poucas organizações se movimentando nessa direção, e considerando que o Brasil não chegou ao nível da terceira revolução industrial, como as empresas vão lidar com esse gap?
Treinamento e mais treinamento. Mas essa tarefa não é só das organizações, mas de todos nós, se quisermos estar preparados e nos mantermos no mercado de trabalho.
Abraço e obrigado pelo comentário.
O que você está estudando agora? Isso pode definir o seu futuro.