A gestão organizacional está passando por uma profunda e abrangente mudança na mais recente revolução industrial desde Tempos Modernos.
Em 1936 Charles Chaplin fez sucesso com seu personagem O Vagabundo, que tentava sobreviver no então moderno mundo industrializado. O filme “Tempos Modernos” era uma forte crítica ao capitalismo. Retratava com humor a situação dos empregados no modelo vigente de trabalho da época, que era a linha de montagem.
A necessidade de alta produtividade já estava presente no enredo. O personagem tinha que correr para cumprir sua tarefa de apertar parafusos em uma esteira industrial acelerada. Já naquela época o resultado da fábrica era coletivo, mas fortemente dependente da produtividade de cada um. E foi justamente o gargalo criado pelo atrapalhado Vagabundo que colocou tudo a perder, criando o caos na organização.
Quase um século depois a história se repete. Já estamos agora na quarta revolução industrial, que não se limita mais apenas ao chão de fábrica. As organizações passaram por constantes mudanças cada vez mais amplas, mas agora a tecnologia mudou também os processos gerenciais. Normalmente as atividades são menos rotineiras, como apertar parafusos, mas sempre muito dependentes dos trabalhos individuais somando no resultado coletivo.
A evolução tecnológica tornou viável o que até pouco tempo parecia ficção cientifica. Computação na nuvem, internet das coisas, inteligência artificial e robôs executando atividades cada vez mais complexas. Mas quem poderia imaginar há poucos anos que isso seria uma realidade e que ameaçaria nossos empregos? Segundo o Fórum Econômico Mundial muitos postos de trabalho estão sendo perdidos por causa da automatização na chamada indústria 4.0. Mas o que vem tirando o sono de muitos profissionais mais recentemente é o trabalho remoto.
O chamado Home Office vem se tornando um padrão para muitas profissões, que não dependem exclusivamente da presença física do profissional no ambiente de trabalho. Graças às novas tecnologias de comunicação e colaboração online, muitas atividades podem ser realizadas à distancia, mesmo que desenvolvidas em equipe.
Por um lado isso pode representar economia para as organizações. Nesse modelo há menos necessidade de espaço, principalmente em áreas mais caras como as de escritórios. Também há redução de custos com limpeza, cafezinho, segurança, energia elétrica, rede de dados etc. Todos esses custos passam a ficar por conta dos funcionários que precisam organizar um espaço de trabalho em casa, arcar com as despesas de internet, aumento da conta de energia elétrica etc. Mas é claro que em uma situação definitiva isso pode ser resolvido com acordos de trabalho. Tudo acaba se acomodando em um novo patamar de relacionamento profissional patrão/empregado.
Leis antiquadas sempre criaram dificuldades para o trabalho remoto, mas isso vinha sendo resolvido aos poucos pelo lobby das organizações. Mas a maior preocupação dos gestores e motivo de demora na entrada definitiva nesse novo modelo de trabalho é a produtividade.
Na cabeça desses executivos à moda antiga, no escritório, sob o olhar vigilante dos gerentes, os recursos trabalham mais. Há menos distrações, pois o ambiente é preparado para a concentração e o tempo dos recursos é controlado. Horário de entrada, saída, duração do almoço e até o tempo gasto no cafezinho ou mesmo no banheiro são limitados. Isso é feito pela intimidação relativa à presença do gerente, pelos relógios de ponto ou pelo próprio arranjo arquitetônico. Afinal os espaços reduzidos para o café ou toaletes claustrofóbicos não são um convite para a permanência prolongada.
A velha gestão organizacional também nunca se empenhou muito para implantar medidas mais eficientes de medição e controle de produtividade. Valorizam o trabalho em equipe, mas avaliam os recursos individualmente, e mesmo assim mais qualitativamente do que pelos resultados gerados. Mesmo nas organizações mais bem gerenciadas, os objetivos e metas são departamentais. Não existe o esforço dos diretores em desdobrar essas metas por gerentes, e destes por recurso.
É claro que para algumas atividades mais operacionais o trabalho presencial e o velho controle de horário ainda são necessários. Mas a má notícia é que essas atividades estão acabando. A nova realidade da inteligência artificial, robotização e inovação constante exige cada vez mais capacidade criativa, interatividade e boa comunicação.
Nesse novo modelo de gestão organizacional há menos níveis hierárquicos e maior cuidado na definição de objetivos e metas individuais. Veja mais detalhes sobre esse novo modelo organizacional no meu artigo “Holocracia – O meu chefe sumiu, e agora?“. Assim, cada pessoa da organização pode ser um líder em um determinado momento ou para uma atividade especifica. Isso garante agilidade nos processos e flexibilidade nas decisões.
Modelos mais robustos de objetivos e metas também estão sendo implantados. É o caso do OKR, que nada mais é do que o velho KPI aplicado de forma mais estruturada. Nesse modelo os objetivos são distribuídos por departamentos, equipes e colaboradores, com metas individuais mensuráveis que são avaliadas periodicamente.
O modelo tradicional de organização vem sendo substituído, nos últimos anos, por uma estrutura mais difusa, pulverizada e diversificada. A produção controlada e restrita aos domínios físicos das empresas vem dando lugar a uma produção distribuída.
Esse novo arranjo organizacional é impulsionado pelas recentes mudanças tecnológicas, diversidade de gerações nos ambientes profissionais e crescentes demandas globais. Nesse contexto, como escrevi no artigo “Economia da Colaboração” a produção é realizada por comunidades colaborativas e auto organizadas.
Segundo o livro “Wikinomics”, esse novo modelo econômico já se estende para além das indústrias com atividades de ponta. Além de aviões, software, música e remédios, o efeito colaborativo está se espalhando por praticamente todas os segmentos da economia global.
Muitas organizações estão empenhadas em acompanhar todas essas tendências de reestruturação. A tecnologia substituindo atividades, o trabalho remoto e a economia da colaboração na verdade são consequência de um único movimento. E esse movimento nem é novo. Na verdade vem sendo a base de todos os movimentos precedentes e deve continuar ditando as tendências organizacionais. Estou me referindo à constante busca por redução de custos. Cada processo deve ser revisado para a nova realidade e cada colaborador passa a ser avaliado individualmente. O que conta agora não é mais a quantidade de horas mensais, mas sim a produtividade, correspondendo com suas metas e sincronizada com a equipe, resultando em eficiência na produção coletiva.
O sucesso de uma organização continua dependendo da colaboração em equipe, mas os resultados nunca dependeram tanto do trabalho individual. Não há mais espaço para grandes desníveis de produtividade. Todos precisam cumprir com suas metas e embora o resultado seja do grupo, todos devem participar.
Já o sucesso profissional depende como nunca do sucesso da organização como um todo. Metas individuais são apenas medidas internas de produtividade, mas o desempenho profissional é avaliado quanto ao resultado global.
Como você e sua organização estão lidando com todas essas mudanças?
Se o trabalho em home office ainda não é sua realidade, em breve será. E você deve se desenvolver rapidamente nesse novo modelo de trabalho.
Você precisa aprender a ser produtivo trabalhando remotamente. Precisa saber gerenciar seu tempo e priorizar suas atividades, se organizar e cuidar da comunicação. Mas, acima de tudo, precisa descobrir como ser excelente tanto como líder, quanto como liderado, mesmo à distância.
Bons Projetos e bons negócios!
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